domingo, 15 de maio de 2011

ROGER ABDELMASSIH, MAIS UMA VEZ NA MIDIA, mas não do jeito que ele gostava...

Começa vir à tona o horror da clínica de reprodução de Abdelmassih

Monstro que se passava por médico
Roger Abdelmassih manipulava sem ética e escrúpulos, à margem da lei, a genética para obter um índice de sucesso de fertilização humana acima da média de seus concorrentes, no que parece ser agora uma clínica de horror, de acordo com as investigações do Ministério Público.

O médico, que se encontra foragido por ter sido condenado a 278 anos de prisão por ter estuprado 36 pacientes, propagandeava que a sua clínica possibilitou a geração de 8.000 bebês. Mas muitos dessas crianças podem não ser filhos biológicos de seus pacientes, ou da parte de pai ou de mãe.

O Ministério Público tem informação de que Abdelmassih, por decisão própria, implantava no útero de pacientes embriões formados a partir de óvulos e espermatozoides de outras pessoas.

A revista Época informa que pelo menos três casais – um de São Paulo, outro do Rio e o terceiro do Espírito Santo – descobriram que o DNA de seus filhos é incompatível com o de um dos cônjuges.

Este blog apurou que muitos casais que passaram pela clínica vivem o tormento da dúvida sobre a procedência do material genético da geração de seus filhos.

Ainda assim alguns deles já resolveram que não submeterão seus filhos ao exame do DNA porque temem o abalo da descoberta, a de que, por exemplo, o pai de seus filhos seja o próprio Abdelmassih. O homem, afinal, tem mania de grandeza, é um estuprador em série, gostava de dizer que tinha a missão divina de gerar bebês e chamava as crianças nascidas de fertilização em sua clínica de “meus filhos”.

O MP está apurando a procedência do material genético manipulado por Abdelmassih. Há forte indício de que o banco de óvulos da clínica era abastecido pelas próprias pacientes, as mais jovens e mais sadias. Assim, por conta desse furto de óvulos, é possível que muitas pacientes de Abdelmassih sejam mães de filhos de outras pacientes.

Há relatos de pacientes de que o médico ficava irritado quando alguém dizia que pretendia fazer exame de DNA no filho. Ele reagia como se estivesse ofendido pela desconfiança da seriedade de seu trabalho.

Um casal – cuja mulher já tinha sido fertilizada e estava grávida de gêmeos -- relatou ao Ministério Público que comunicou ao Abdelmassih que ia fazer o teste nos filhos, quando nascessem.

O casal desconfiava estar sendo enganado pelo médico. O marido tinha diagnóstico de que era infértil. Para Abdelmassih, contudo, não havia nada de errado, mas ainda assim ele forçou a realização de uma fertilização in vitro com o argumento de que essa seria uma solução mais prática e rápida.

Abdelmassih teria ficado possesso quando percebeu que o casal não desistiria do teste do DNA e o expulsou do seu consultório. Na consulta seguinte, o médico entregou à paciente um envelope com dois comprimidos, “um para ingestão imediata e outro após três horas”.

A paciente tomou um comprimido e teve de ser socorrida às pressas porque sentiu fortes dores abdominais, como se estivesse sofrendo um aborto. O que de fato ocorreria, se tivesse ingerido o segundo comprimido. Análises de laboratório comprovaram que os comprimidos eram o Citotec, um medicamento indicado para tratamento de úlcera e proibido a grávidas por causa de seu efeito abortivo.

Após a amamentação, o casal submeteu os filhos ao exame de DNA e ficou comprovado que o marido não era o pai biológico. Em 1994, Abdelmassih pagou R$ 300 mil para cada um dos cônjuges para que o caso não fosse levado à Justiça, fazendo parte do acordo a assinatura de um termo com data retroativa que permitia o uso de espermatozoides de terceiros. O casal acabou se separando, e os filhos foram poupados até agora da história de sua paternidade.

O engenheiro químico Paulo Henrique Ferraz Bastos (na foto abaixo), 39, é uma testemunha importante do caso, porque tem informações que dão ideia dos horrores da clínica de Abdelmassih. Ele foi um dos três sócios da Genética Aplicada Atividades Veterinárias Ltda. Os outros eram o casal Alexandre Kerkis e Irina Kerkis, geneticistas de origem russa.

Bastos disse a este blog em 2009 que se incomodava com o fato de a empresa, dedicada à genética veterinária, estar prestando serviços à clinica de Abdelmassih. Agora, à Época ele contou que os seus sócios temiam que os pacientes fizessem exame de DNA nos filhos.

Ele também fez uma revelação chocante, cujas implicações precisam ser avaliadas pelas autoridades e por especialistas. Falou que na clínica havia células de animais ao lado de óvulos humanos. “O que células de cavalo estavam fazendo em uma clínica de reprodução humana, na clínica do Roger? Dentro da comunidade genética se comenta isso, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não diz isso para a população”.

Bastos se desligou da empresa e passou a sofrer ameaça de morte – ele não disse de quem -- para não contar o que sabia. “Me falaram que no Brasil é muito fácil ser assassinado.”

Andou por uns tempos em lugar incerto e não atendia telefone. Às vezes entrava em contato com este blog por e-mail. Agora, ele resolveu falar. À Época, deu a seguinte entrevista.

"A sociedade precisa investigar essas paternidades"

ÉPOCA - Que tipo de procedimentos eles faziam lá?

Paulo – A Irina me falou que eles faziam aquela injeção intracitoplasmática, que aumenta a possibilidade de a mulher infértil ter filho. Você pega a parte de um citoplasma de um óvulo jovem e coloca dentro de um óvulo de uma mulher mais velha, um óvulo em senescência, com problemas de fertilidade. Você aumenta a probabilidade de sucessos. É uma técnica que mistura DNA dos pais biológicos originais com o DNA daquele óvulo que foi usado para fazer turbinamento. Em pelo menos 2% dos casos o bebê nasce com DNAs de duas mães e de um pai. Há muita gente que é contra e acha antiético. Existem estudos, mas não há certeza sobre que tipo de problemas essa técnica de turbinamento pode trazer para o bebê. Na origem, já está errado misturar material genético de pessoas diferentes e fazer essa sopa. Ainda que seja legítimo o desejo de um casal de ter filhos, tem de haver limites éticos. Esse serviço de turbinamento era oferecido para os clientes, mas não era explicado de onde vinha o óvulo para fazer esse turbinamento e não era explicado para a mãe que ela teria um filho com o DNA de uma pessoa que ela nem conhecia. Para uma pessoa leiga, é algo muito difícil de entender e de discutir, porque pressupõe conhecimento científico e o questionamento de pessoas renomadas como o Roger.

O senhor recomendaria testes de DNA aos pais que procuraram a clínica de Abdelmassih para ter filhos?

Eu recomendaria, porque posso dizer muito sobre esses meus sócios russos, que eram o braço direito e esquerdo do Roger. Eles não têm conduta ética, profissional, científica. Fazem o que for mais imediato para a publicação de um paper ou a conquista de uma colocação melhor no departamento. Não me surpreenderia nem um pouco se fizessem testes de DNA nas crianças geradas naquela clínica e encontrassem incompatibilidade com os pais. Uma das coisas que o Alexandre fez uma vez foi com um cavalo que tratamos. Uma semana depois de aplicar células no cavalo, o Alexandre me liga para saber se o animal estava reagindo bem. Eu disse que sim, que o ultrassom mostrava boa resposta. Ele me respondeu: “Ah, que beleza. Preciso te contar uma coisa. Sabe aquelas células que eu apliquei naquele cavalo? Não eram células-tronco da gordura do animal. Eu peguei da minha cultura celular humana”. Eles aplicaram células humanas em cavalo. Esse era o braço direito das pesquisas do Roger Abdelmassih: Alexandre Kerkis.

O senhor testemunhou outros procedimentos irregulares?

Comecei a achar estranho e a fazer uma série de questionamentos. Uma vez achei que seria boa ideia fornecermos óvulos de vaca – ócitos – para que eles fizessem testes na clínica antes de aplicar as técnicas em células humanas. O Alexandre na hora disse não: “Não precisa de óvulos de vaca, você sabe disso. Nós temos óvulos de sobra lá, temos até de jogar fora. Eu pego óvulo para fazer qualquer coisa lá”. Na hora, eu estava desesperado para fazer a empresa dar certo, torná-la uma clínica renomada. Nem pensei que isso era um crime, que ele pegava óvulo de paciente que sobrava depois de uma hiperovulação. Era como se ele pegasse óvulo como quem pega uma garrafa de água na geladeira, quando quer. O Alexandre me disse que tinha material genético à disposição para fazer a pesquisa que quisesse. Por isso, o Roger era o paraíso na Terra para qualquer cientista: tinha material genético, dinheiro, equipamento, tudo à disposição.

Esses óvulos eram usados com o consentimento das mulheres a quem pertenciam?

Acredito que os óvulos eram usados sem o consentimento das mulheres a quem eles pertenciam. A Irina uma vez me falou que não dava para provar que eles faziam uso indevido de óvulos, porque óvulo não fala. O óvulo não diz se ele é da Helena ou da Maria, não tem etiqueta, não diz que ele não pode ser usado para fazer embrião para a pesquisa ou para fertilizar outra mulher. Como você vai rastrear isso? É difícil. Mas sei que havia um banco clandestino de óvulos. Um monte de óvulos misturados a material animal dentro da clínica e sem registro. Células de minha empresa estavam lá. O que células de cavalo estão fazendo em uma clínica de reprodução humana, na clínica do Roger? Dentro da comunidade genética se comenta isso, mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não diz isso para a população.

Com informação da Época e do arquivo deste blog.

Um comentário:

Isabel Lautenschlager Santana disse...

Amei o seu blog , parabéns.
Deixo o blog Belas Artes Médicas.
Abraços.